Entre Ulika Paixão Franco
e João Gonçalves Lourenço

Propomos aos leitores do Folha 8 que analisem estes dois textos. Falam de coisas diferentes mas, do nosso ponto de vista, revelam duas posturas relevantes para a angolanidade. Além disso, as palavras voam mas os escritos são eternos e estes poderão, um dia (quando Angola for o que ainda não é – um Estado de Direito), ajudar a escrever a História de todos nós e não apenas, como agora, a história de alguns de nós.

Ulika Paixão Franco: “Aos jornalistas que me conhecem ao ponto de não me entenderem como uma frívola oportunista e aos que não me conhecem ao ponto de me reduzirem a uma desordeira, sou a lamentar os constrangimentos causados pela leitura de um poema.

Tentei, de várias formas ter acesso a Sua Exa. Sr. Comandante o Presidente da República de Angola Dr. João Lourenço. Um Presidente da República é, por inerência, o Comandante Supremo das forças armadas.

Presidentes há muitos, até de Assembleias Gerais de Condóminos. Comandantes há poucos.

Dirigi-me a Sua Exa. Sr. Comandante o Presidente da República de Angola Dr. João Lourenço com cortesia e educação, não recorri nem a vernáculo nem a gíria perante o Ilustre Alto Dignitário, e não forcei a bolha de privacidade, mantendo-me sempre obediente no meu lugar enquanto expus o que pretendia: ler-lhe um poema e pedir-lhe para construir um jardim, um jardim grande, para as crianças brincarem e aprenderem a História de Angola.

Há pouco menos de dois anos a comunicação social, particularmente a SIC dirigida pelo Dr. Ricardo Costa que tornou viral um vídeo que, se pretendeu ser informativo, pecou pela falta de enquadramento da notícia, preterindo expor ao máximo a ideia de desordeira oportunista. O mesmo grande canal de televisão SIC, dirigido pelo grande jornalista e Director de Informação o cidadão de bom nome Dr. Ricardo Costa, dedicou considerável tempo a cobrir a prisão de um cidadão Angolano a quem tratou sempre pelo nome (porque as pessoas têm nome) e com o respeito e consideração absolutamente devidas a um jovem cidadão que sempre que se exprimia recorria ao vernáculo, ao uso de gíria e calão, ofendia os Pais fosse de quem fosse naquilo que ele apelidava serem concertos de música e nunca bebia água por um copo, mas directamente de um garrafão de 5 litros.

Este é o perfil de alguém a quem bastou ser de etnia branca para ser tratado com cortesia pela comunicação social em Portugal, e particularmente pelo Director de Informação já referido, à frente de um meio nada tablóide nem sensacionalista, e que respeita o bom nome de todos os cidadãos e cidadãs independentemente da etnia, como se pode provar pela cortesia não tida como uma cidadã Negra, órfã de pai aos 13 meses que, após 41 anos calada, acordou num dia de chuvoso sol para desrespeitar os jornalistas Portugueses com Poesia e que por esse motivo a expuseram ao máximo sem nunca citar o seu nome (excepção se faça ao Observador), porque os cidadãos Angolanos Órfãos de Etnia Negra – ao contrário dos cidadãos Angolanos de Etnia Caucasiana filhos dos Dirigentes da FESA que herdaram fortunas com as cabeças que foram ceifando enquanto na DISA – não têm direito nem ao nome, muito menos ao Bom Nome.

Soubessem V. Exas. Srs. Jornalistas extremamente ofendidos na dignidade profissional pela Poesia os esforços empreendidos para se chegar ao contacto por vias oficiais… Soubessem V. Exas. Srs. Jornalistas o que são 41 anos de silêncio misturados com 41 anos de ofensas repetidas vindas de todos os lados. A levada a cabo pelo Director de Informação da SIC é só mais um pequeno choque eléctrico numa vida onde se tornaram incontáveis os choques eléctricos.

A mensagem abaixo recebi-a de uma jornalista muito sentida por ter sido atingida a tiro na dignidade da sua profissão. Partilho-o aqui e partilharei com a ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social. Passo a citar:

“Pára de ser manipuladora. Pára de fazer chantagem emocional com os outros à custa do teu pai. Além do mais só revelas o teu egoísmo, a tua falta de empatia. O teu sofrimento não é o único nem sequer o mais importante. Lamento mas não estás no centro do universo. Caso não te dês conta (e não dás) os outros também têm vida e problemas e angustias, mesmo que não façam deles uma forma de obter afecto e atenção.”

A isto respondo como sempre respondi. O Meu Pai e o Direito à Defesa do Bom nome do Meu Pai é algo de que nunca me irei excluir ou preterir. Não me incomoda minimamente que transfiram os maus-tratos que ele sofreu directamente para mim. Herdei o nome, também herdei os maus-tratos. Aproveito para informar novamente que Meu Pai dá pelo nome de Adelino António dos Santos, também conhecido e identificado na lista de procurados por Betinho, e não será uma alva frustrada cidadão com carteira de jornalista que me irá magoar mais do que a Vida já se encarregou de o fazer.

O Betinho, o Meu Pai, Adelino António dos Santos, nascido em Malanje, filho de António Ribeiro dos Santos (cidadão Português nascido em São Martinho do Porto) e de Beatriz Domingos Alves (cidadã Angolana nascida em Malanje) foi o Betinho para os amigos e o KOLOKOTA que escreveu poemas enquanto esteve preso pela PIDE na Cadeia de São Nicolau. O difícil que é para o Dr. Ricardo Costa acreditar que havia Negros que em 1973 escreviam poemas, mas houve. Muito antes até, o meu tio-tetravô Pedro da Paixão Franco, um Angolano Negro, Democrata e Republicano, fundou a imprensa em Angola no século de XIX e escreveu um dos primeiros romances da época dos movimentos nativistas nacionalistas com muito mais qualidade e brio do que a que V. Exa. Dr. Ricardo Costa recorre quando dirige o tratamento da informação de forma sensacionalista, desinformada e desinformadora, não estudada, tablóide, desrespeitosa, lambe-botista e racista. Para os que os perseguiram e torturaram o Meu Pai há 41 anos e para os novos perseguidores que usam como tortura mensagens, SMS e vídeos procurando tornar viral e supérflua a dor alheia, o Meu Pai nunca será Betinho mas Adelino António dos Santos. E quem voltar a omitir desrespeitando o seu Bom Nome vai ter resposta, por esta via e em sede própria, porque eu estou a equacionar junto dos meus advogados a forma como irei dar conhecimento à ERC esta exploração da imagem pública sem identificação das pessoas pelo seu Direito ao Nome. Nem que isso me deixe a pão e água. Há muito tempo que deixei de ter medo de portas barrada, e-mails apagados sem ler e telefones atirados à cara. Desde que Salazar deixou o Poder que não existem filhos de Pais incógnitos em Portugal. Haja RESPEITO!!! Os meus sinceros votos de uma boa semana de trabalho V. Exas Dr. Ricardo Costa. Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”

João Lourenço: “Em primeiro lugar, dizer que não é verdade essa estatística a que se referiu, de que morre mais gente hoje do que no período da guerra. Não corresponde à verdade.

A assistência de saúde no país melhorou desde o fim do conflito armado.

É evidente que ainda não estamos satisfeitos com o estado de assistência às nossas populações, porque há muito trabalho por fazer. Há investimentos por realizar em todos os domínios, nas infra-estruturas, equipamentos, formação de quadros, e é, sobretudo, na formação do homem que gostaríamos de contar com Portugal.

Foi assinado, entre os 13 instrumentos de cooperação, um que tem a ver com a possibilidade de professores portugueses – não só de Língua Portuguesa mas de outras áreas -, irem trabalhar em Angola. Do pedido que fizemos a Portugal, estendemos também para a área da Saúde.

Não foi possível assinar, durante esta visita, um acordo no domínio da Saúde, mas vamos fazê-lo, provavelmente, por ocasião da visita a Angola do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em princípios do próximo ano”.

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